Reduzir preços não é o mesmo que adotar uma
estratégia de marketing: quando você reduz, não há volta
Quando o mercado
está acirrado como hoje e as vendas estão nulas, ou mesmo caindo, muitos
marqueteiros veem a redução dos preços como uma escolha fácil e reversível.
Porém, o que parece uma opção estratégica rápida e de curto prazo, pode ter
consequências devastadoras no longo prazo. Um corte nos preços pode diminuir o
valor adquirido dos produtos e serviços, depreciar a marca ou até mesmo
desencadear uma guerra de preços.
Cortar preços
não é o mesmo que ter uma estratégia de marketing. Reduzir o preço é um pouco
como disparar uma arma nuclear – uma vez que, apertado o botão, não há como
voltar atrás. Nem todos vão concordar, é claro. Para muitas empresas, é a única
opção de sobrevivência ao lidar com uma concorrência maior, ciclos de vida de
produto mais curtos, menor diferenciação de produto, clientes mais
inteligentes, mais marcas privadas e um crescente segmento baseado no valor
recebido pelo dinheiro pago.
As empresas
podem também considerar uma redução de preço se a moeda de seu mercado interno
estiver em processo de valorização, podendo tornar seus produtos e serviços menos
competitivos. Temos visto isso ao longo dos últimos anos na Suíça, onde a
ascensão do franco suíço encareceu os produtos de empresas locais e alguns
prestadores de serviços em cerca 20 a 25% em relação aos seus concorrentes
europeus ou americanos.
No entanto, é
normalmente mais sensato oferecer mais ao cliente do que baratear sua
proposição de valor, pois o objetivo do preço é refletir o valor de um produto
ou serviço. Ao reduzir preços, marqueteiros muitas vezes anulam todo o trabalho
árduo que foi feito na criação de valor aos olhos de seus clientes.
Por que tantos
marqueteiros estão se comportando assim? Há duas razões principais. Primeiro, o
preço é uma decisão que pode ser tomada de forma relativamente rápida – você
pode decidir diminui-lo em 20% amanhã. Agora, repensar seu produto, serviço,
comunicação ou distribuição leva muito mais tempo.
Segundo, a
redução de preços parece uma opção barata. Se você considerar os "quatro
Ps" do mix de marketing – produto, praça (distribuição), promoção
(comunicação) e preço – o preço é o único que não gera dinheiro.
Portanto, sua
redução deveria ser considerada por último. O corte de preços é quase sempre um
processo complexo. Como definir o preço? Quando uma empresa deveria alterar
seus preços? Deve procurar seguir ou liderar? E deveria reduzir no geral ou
apenas em determinados produtos e segmentos? Em mercados maduros, sabemos que o
consumidor atual normalmente quer o melhor produto, ou o mais barato, então não
sobra muito espaço no meio.
Também é difícil
reverter a redução porque muitas vezes seus concorrentes tendem a diminuir seus
próprios preços como resposta. Daí a minha analogia das armas nucleares: uma
vez reduzido seu preço, é difícil voltar atrás.
Então, o
que as empresas podem fazer?
Há muitas
alternativas, todas ligadas à agregação de valor ao consumidor ou cliente. A
primeira é repensar sua proposta de valor, oferecendo mais pelo mesmo preço.
Pode ser algo que custe relativamente pouco, mas que provoca um impacto
significativo para o cliente. As montadoras podem aumentar suas garantias,
fabricantes de chocolate podem vender pacotes de 25 em vez de 20, ou empresas
de treinamento podem oferecer uma sessão gratuita ao cliente. O importante é
pensar em termos de valor para o cliente.
A segunda é
repensar sua segmentação e portfólio de marca de modo a visar mais clientes.
Porque um único produto/oferta não agrada a todo mundo. É por isso que um
grande fabricante de pneus, como a Michelin, trabalha com várias marcas: de
pneus premium Goodrich – para carros esportivos – à marcas de varejo – para
consumidores sensíveis a preço, no Wal-Mart ou Norauto. Da mesma forma, a
Singapore Airlines tem três marcas diferentes (Singapore Airlines, Virgin
Airlines e Tiger Airways) para cuidar de três segmentos de preço diferentes.
Terceiro, as
empresas devem reconsiderar sua estratégia de comunicação para aumentar a
oferta e tornar o produto ou serviço mais conhecidos para clientes potenciais.
Gastos em marketing e publicidade muitas vezes sofrem uma queda quando a
economia não vai bem. Mas isso é um contra-senso, pois é exatamente quando as
condições do mercado estão desfavoráveis que você precisa de ideias novas. O
guru da publicidade David Ogilvy disse: "Quando o momento está bom, você
anuncia; e quando está ruim, você deve anunciar". Infelizmente, a maioria
das empresas faz o contrário – quando o momento está bom, elas gastam; e quando
está ruim, cortam tudo.
Por fim, use o
bom senso e reveja seus custos. Não estou sugerindo que você deva,
necessariamente, reduzir seus custos ao demitir funcionários. Sugiro que você
repense sua equação de custo. Isso já é uma rotina empresarial e deve passar a
ser uma prática diária. Ainda cabe analisar seu orçamento detalhadamente,
visando encontrar algum excesso de gordura para cortar. Só depois de passar por
estas quatro etapas é que as empresas deveriam decidir, relutantemente, que não
há outra escolha senão reduzir seus preços. Porém, em minha opinião, esta deve
ser a última alternativa, porque competir em preço é sempre muito arriscado!
Dominique
Turpin – é presidente do IMD (Suíça). Ele co-dirige o programa
Orchestrating Winning Performance (OWP), considerado o principal de formação e
atualização para líderes de empresas, atraindo centenas de executivos de todo
mundo.
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